quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cannes 2011: Os Primeiros Dias

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Depois de uma edição problemática, e quase que totalmente apagada e acinzentada pelas cinzas do vulcão Eyjafjallajoekull e os temporais inesperados que castigavam a frança, a edição 2011 do festival de Cannes veio com “renovação” como palavra de ordem. A mudança notou-se logo na divulgação da seleção oficial, que está sendo considerada há melhor em muitos anos (considero a de 2009 muito boa também) Nos nomes divulgados intercalam-se grandes e famosos como Pedro Almodóvar, Gus Van Sant, Os Irmãos Dardenne, Lars Von Trier, Nanni Moretti, Terrence Malick e Woody Allen (que acabou fora de competição, mas foi o responsável pela abertura do festival) Com os promissores nomes que chamaram atenção em edições anteriores como: Naomi Kawase, Paolo Sorrentino, Lynne Ramsay, Aki Kaurismäki, Nuri Bilge Ceylan e Bretrand Bonello. Nomes novos no festival também participam: Michel Hazanavicius, Joseph Cedar, Maïwenn Le Besco, Radu Mihaileanu, Nicolas Winding Refn e até o veterano Alain Cavalier, que ao que me parece está estreando no festival, ou ao menos a muito não era lembrando. Cannes está tão democrática este ano, que incluiu 4 mulheres na competição, número inédito até então, além disso, dois estreantes na direção de filmes: Julia Leigh que apresenta “Sleeping Beauty” e Markus Schleinzer com “Michael”

Ainda é cedo para dar um veredicto final e analisar com certeza se o festival atingiu o seu objetivo... Pessoalmente eu arriscaria que sim, nestes primeiros 4 dias a leveza de espírito que ronda o festival é notável, talvez ocasionada pelo clima bem mais amigável do que o do ano anterior. Porém nem todos os filmes em competição que foram apresentados nesses primeiros dias partilham dessa leveza, trazendo em sua maioria temas fortes. Confiram abaixa o que aconteceu em Cannes até agora:

1º dia

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A cerimônia de abertura do festival começou com a merecida homenagem a Bernardo Bertolucci, que recebeu a primeira “Palma de Honra” a nova premiação do festival, que a partir desta edição será entregue anualmente em reconhecimento a grandes carreiras como a de Bertolucci que ainda não receberam a honraria da palma. Bertolucci, em uma cadeira de rodas devido a um problema na coluna, revelou que decidiu voltar ao cinema depois de ter visto e adorado o filme “Avatar” de James Cameron, segundo o diretor italiano ele empregara a mesma técnica 3D em seu próximo filme, o primeiro desde “Os sonhadores” de 2003. Bertolucci também declarou que estava feliz em receber sua primeira palma, e que valeu a pena esperar. Revelou também que quando fez seu filme “1900” não aceitou ao convite do festival por temer que o filme fosse depreciado em sua participação, já que segundo palavras do próprio Bertolucci ele se trata de “um monstro de 5 horas de duração”. Anos mais tarde ele encontrou com o diretor Costa-Gravas, que foi o presidente do júri no ano em que recusou o convite, e este lhe perguntou o porquê dele não ter aceitado participar, pois ele e o restante do júri dariam a palma de ouro a ele. Bertolucci foi amplamente aplaudido pela platéia presente no palácio dos festivais. Outro a receber aplausos e saudações efusivas foi o presidente do júri deste ano, o ator Robert De Niro. Em seu discurso agradeceu o convite para participar do festival deste ano e disse que espera fazer um bom trabalho a frente do júri. Antes dos discursos de Bertolucci e De Niro, a abertura oficial ficou por conta da atriz francesa Mélanie Laurent, que declarou que “Os onze dias do festival valem por 100”

Logo após todos os discursos de abertura, Woody Allen abriu para valer o festival exibindo seu novo filme “Meia noite em Paris” que foi aplaudido pela platéia e muito bem recebido pela imprensa presente, apesar da boa recepção o filme de Allen não integra a competição. Na coletiva após a exibição, Allen declarou que não se considera um artista de verdade como Bergman e Fellini, e que sua careira se resume em apenas um bom diretor, que tenta fazer o seu melhor. Quanta modéstia Allen! Sabemos que não é bem assim... O diretor também revelou que a primeira dama francesa, Carla Bruni, aceitou participar do filme, porque um dia gostaria de contar essa história para seus netos, e declarou que ela fez seu papel com perfeição. Allen ainda disse que a vontade de querer viver em outras épocas é uma armadilha, este é um dos elementos do roteiro de “Meia Noite em Paris”

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A abertura  da competição ficou por conta de “Sleeping Beauty” que chocou mais do que agradou, algumas criticas diziam que apesar da grande e ousada interpretação de Emily Browning, a estréia da diretora Julia Leigh é um filme de aspecto lento e que pode aborrecer em alguns momentos. Não deve causar grande comoção no júri também, porém Browning pode ser premiada por sua atuação

2° dia

O segundo dia do festival começou com a exibição de “We Need to Talk About Kevin” bastante elogiado pela critica, o filme de Lynne Ramsay sobre a história de Eva (Tilda Swinton) uma mãe que abriu mão do seu futuro para criar o filho Kevin. A relação entre os dois sempre foi bastante complicada, porém Eva não imaginava que o filho fosse capaz de cometer aos 16 anos um crime em massa em sua escola. Eva encontra-se então entre a culpa e o sentimento materno. O Movieline em sua critica escreveu: “A relação mãe-filho é bastante convincente. Swinton é fenomenal. A sua nudez emocional, o seu desejo de fazer o que é correcto pelo seu filho, é sempre credível.” Swinton, por enquanto lidera as aposta para o prêmio de melhor atuação feminina, e Lynne Ramsay está sendo bastante elogiada pelo seu trabalho a frente deste filme, será que temos uma primeira favorita ao prêmio de direção? Lembrando que este ano 4 mulheres estão em competição, um recorde.

SB

O segundo filme na competição pela palma, exibido foi “Polisse”, também dirigido por uma mulher, Maïwenn Le Besco, que também atua e assina o roteiro. Foi elogiado e recebido como uma bela surpresa. o filme de ficção adiciona elementos de documentário em sua montagem, esta característica lembrou o vencedor da palma de 2008 “Entre os Muros da Escola”, francês, assim como “Polisse”. O Austin Movie Blog declarou em sua critica, que não vai ser surpresa se “Polisse” seguir os passos de seu conterrâneo e vencer o festival, trazendo assim a Palma de Ouro de volta para a França.

Também fizeram parte do 2° dia a exibição do novo filme de Gus Van Sant "Inquietos" na mostra Um Certo olhar, que será comentada em breve aqui no blog. Fora de competição o filme de animação “Kung Fu Panda 2” trouxe estrelas como Angelina Jolie, Dustin Hoffman e Jack Black ao tapete vermelho.

3° Dia

O terceiro dia de festival contou com a exibição de “Habemus Papam”, novo filme do já vencedor da palma de ouro Nanni Moretti, sobre um papa em crise existencial logo após ser eleito pelo conclave. O filme não impressionou a crítica, sendo considerado como apenas simpático e bem realizado. Alguns críticos destacaram que Moretti não aproveitou ao Maximo o potencial de seu próprio filme, e que o destaque principal da bem humorada história fica a cargo da atuação maravilhosa de Michel Piccoli. Dando uma aula de atuação aos 85 anos, o astro de filmes como “O Desprezo” é o nome mais forte até o momento nas apostas a cerca do prêmio de atuação masculina.

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Na mostra “Um certo Olhar” foi exibido “Arirang” escrito e dirigido pelo coreano Kim Ki-duk, diretor de “Time” e “Casa Vazia”, o filme foi classificado como difícil de se assistir, e alguns analisam que dificilmente ele encontrara uma distribuição e deve limitar-se a exibições em festivais. Fora de competição “Wu xia” do diretor Peter Chan foi exibido, considerado em geral como um filme de entretenimento que deve agradar a um público específico.

4° Dia

Ao quarto dia, o ritmo de Cannes ficou ainda mais intenso com a exibição fora de competição de “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas” estrelas como Johnny Depp e Penelope Cruz que fazem parte do elenco, além de convidados, fizeram a festa de fotógrafos e fãs que estavam presentes no tapete vermelho.

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Já na competição, o filme austríaco “Michael” do diretor estreante Markus Schleinzer causou um certo choque, dividindo a opinião da platéia que ficou entre vaias e aplausos. Entre os motivos apontados para a recepção fria se dão; a excessiva lentidão depois da primeira metade do filme e o tema indigesto, que no caso é a pedofilia. O cinema austríaco sempre foi rígido, vale lembrar-se dos filmes de Michael Haneke, este qual inclusive já teve Markus Schleinzer em vários de seus filmes como diretor de elenco.

O outro filme exibido, o israelense “Hearat Shula Yim” também não causou grande comoção nos presentes, gerando também opiniões diversas devido às escolhas do diretor Joseph Cedar.

Um bom começo para um festival que tenta se renovar, porém, aposto que os próximos dias serão ainda melhores, e que os grandes filmes estão por vir. Que assim seja!

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