domingo, 22 de maio de 2011

Cannes 2011: Os Vencedores

Palma de Ouro: “A Árvore da Vida” de Terrence Malick

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Grande Prêmio do Júri: Empate entre “O Garoto da Bicicleta” de Jean Pierre e Luc Dardenne e “Once Upon a Time in Anatólia” de Nuri Bilge Ceylan

Prêmio do Júri: “Polisse” de Maïwenn

Prêmio de Direção: Nicolas Winding Refn por “Drive”

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Melhor Atriz: Kirsten Dunst por “Melancolia” de Lars Von Trier

Melhor Ator: Jean Dujardin por “The Artist” de Michel Hazanavicius

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Melhor Roteiro: “Footnote” de Joseph Cedar

Camera d'Or (melhor filme de estréia): "Las Acacias" de Pablo Giorgelli

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 Curtas:

Palma de Ouro: “Cross” de Maryna Vroda

Prêmio do Júri: Badpakje 46” de Wannes Destoop

Os vencedores da mostra Um Certo Olhar foram divulgados ainda ontem, e são:

Empatados pelo prêmio principal: “Arirang” de Kim Ki-Duk e “Halt auf freier Strecke” de Andreas Dresen

Prêmio Especial do Júri: “Elena” de Andrey Zvyagintsev

Melhor Roteiro: “Bé Omid é Didar” de Mohammad Rasoulof

sábado, 21 de maio de 2011

Cannes 2011: E a Palma de Ouro vai Para…

Os Filmes que tem chance de levar a Palma de Ouro, e os que não tem também...10

Entre os 11 dias do festival, 10 são totalmente dedicados a exibição dos filmes selecionados, seja na competição(ou fora dela), na mostra um certo olhar, na quinzena dos realizadores ou em qualquer outra mostra. Sem sombra de dúvidas são 10 dias intensos, uma verdadeira maratona que coloca em prova o até os cinéfilos mais “hardcores”

Mas como em qualquer festival sempre há aqueles que se destacam mais do que outros... Existem também os que não agradam e os que passam despercebidos, abaixo a lista daqueles que podem ser premiados, os que podem vir a ser surpresa e os que não tem chance e só podem ganhar devido a uma imensa zebra:

Os Favoritos:

“A Árvore da Vida” é daqueles filmes que viram mania mesmo antes de seu lançamento devido às especulações e falatório geral do público e da imprensa, é do tipo também que pode ser amado ou deixado, o que aconteceu no festival. Uns defendem com unhas e dentes que ele vença e leve a palma, outros destacam que ele não passa de um filme bem realizado e não chega a uma obra-prima. Tanta discussão e a qualidade técnica evidente do filme o colocam entre os favoritos.

“Le Havre” chegou sem chamar muita atenção em meio ao barulho de outros filmes em competição, mas foi um dos poucos que ousaram, mesmo de maneira simples, mostrou uma visão diferente do restante, emocionou, encantou e conquistou a todos presentes no festival. Hoje levou o prêmio da crítica e uma menção do júri ecumênico, forte candidato, principalmente se o júri optar por fugir do clima “pesadão” dos filmes desta edição.

“The Artist” Outro que conquistou pela leveza de uma seleção boa, mas pesada, além disso soma-se as qualidades do filme o forte apelo nostálgico, já que é um filme mudo, em preto e branco e que conta uma história que se confunde com a história do próprio cinema, o que sem dúvidas deve ter agradado muito o júri, não vai ser nenhuma surpresa se levar a Palma de Ouro amanhã, deve no mínimo levar outro prêmio caso isto não aconteça

“La Piel Que Habito” Este aqui entra no time dos filmes pesados que foram muitos nesta edição, mas Pedro Almodóvar, um diretor experiente não se deixou cair na armadilha, não choca de forma gratuita e nem de maneira forçada e plástica, ousou ao pisar em um terreno novo em sua carreira, o que agradou muito. Fora tudo isso a qualidade técnica do filme, conta muitos pontos a seu favor... Almodóvar já chegou perto da Palma de Ouro muitas vezes, mas muitos concordam que está já é dele, será? Eu espero que sim.

“O Garoto da Bicicleta” Os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne já venceram a palma de ouro duas vezes, é um vantagem, e curiosamente não é, apesar do festival ser diferente das premiações norte americanas, o fator “já levou” sempre pode ser considerado. Por outro lado a direção e o roteiro de extrema qualidade, dos experientes irmãos que nunca saíram de Cannes sem um prêmio, podem reverter à situação a seu favor, o filme foi também bem recebido

“Drive” Quase coloquei esse na segunda categoria, eu diria que ele é favorito em geral, mas um filme de ação, (mesmo que conceitual) é sempre arriscado se falando em Cannes. Mas é forte, elogiado, bem feito, ousado e com grande direção e atuações solidas, não há dúvidas que pode surpreender, ainda mais em um ano em que buscam renovação. E o filme pode agradar De Niro, já que lembra de certa forma o clássico “Taxi Drive”

Chances fortes de surpresa:

"Once upon a time in Anatolia" esse passou despercebido, é um filme complicado, mas foi muito elogiado pelos críticos, sua apresentação no final do “jogo” quando todos se encontravam cansados foi um fator que pesou, mas talvez não para o júri. Enquadra-se também na categoria “filme cabeça acessível” Cannes gosta de filmes assim.

"We Need to Talk About Kevin" se o anterior passou despercebido no final, este que foi apresentado lá no começo, acabou sendo esquecido pela imprensa em suas apostas, mas vale lembrar que arrancou elogios quando exibido, principalmente pra sua direção e a atuação de Tilda Swinton. Ok, pode não ter forças para a palma, mas apostaria em um prêmio de melhor atuação feminina, e quem sabe melhor direção?

“Hanezu” A natureza foi um dos temas principais da seleção deste ano, um filme com qualidade técnica, dirigido por uma diretora de um país devastado recentemente por um tsunami (força da natureza, pensem) pode ganhar prêmios secundários, talvez até o de direção, e quem sabe, talvez uma a Palma de Ouro? Complicado, mas possível!

“This Must Be the Place” diferente e meio excêntrico, pode ser ousado demais para palma, a atuação impecável de Sean Penn e a história do tipo que agrada a todos podem proporcionar surpresas relacionados a ele, até a Palma é possível aqui caso o filme tenha convencido totalmente o júri.

“Habemus Papam” O filme novo de Nanni Moretti, segundo os críticos: “não aproveitou seu potencial por inteiro”, o filme não chegou a se destacar, e dias depois de sua exibição já havia sido esquecido. Mas Moretti já ganhou uma palma, é um diretor celebrado, e sua participação não pode ser descartada, o tema é mais leve também do que outros filmes apresentados nos primeiros dias, pode ter soado bem.

“Melancolia” Lars Von Trier conquistou o público, aplaudido, já se comentava em um prêmio de direção, e quem sabe talvez a Palma de Ouro? Seria a sua segunda talvez, SE minutos depois, ele não tivesse colocado tudo a perder com uma piada infeliz, seu banimento do festival não interfere a campanha do filme segundo a organização, mesmo assim, acho complicado.

Surpresas pouco prováveis para a Palma, mas que podem outros prêmios:

“Polisse” se assemelha ao vencedor de 2008 “Entre os muros da Escola”, mas talvez seja certinho demais, não chamou tanta atenção, nem passou totalmente despercebido.

“Michael” Pesado demais, desceu com um gosto amargo, é um filme de estréia que teve os seus acertos e suas falhas, talvez agrade pelo fato de tocar num tema tabu.

“Footnote” um filme que não se destacou também, embora o tema agrade o festival, é bem realizado e pode conseguir algo secundário. Palma de ouro? Acho que não.

"La Source Des Femmes" Aplaudido e vaiado... conquistou a simpatia de alguns. A direção correta e a história simples, porém profunda, podem agradar.

Sem chances, a não ser que a zebra se solte:

“L’Apollonide”

“Harakiri”

“Sleeping Beauty”

“Pater”

“Footnote”

Os Primeiros Premiados em Cannes

Um dia antes da cerimônia de premiação é costume em Cannes que os júris e mostras paralelas anunciem aqueles que foram escolhidos como melhores da seleção oficial, muitos desses prêmios são alternativos e há espaço até para brincadeira como a Palm Dog:

Hoje o filme finlandês "Le Havre" do diretor Aki Kaurismaki venceu o prêmio da crítica como o melhor da competição, sobre um autor aposentado que ajuda um garoto imigrante ilegal da África a se esconder da policia. “Le Havre” foi um dos mais elogiados do festival, a crítica destacou que esse filme não perdeu a esperança, diferente da maioria do cinema apresentado no festival, o filme é um dos nomes cotados para a Palma de Ouro. Na mostra Un Certain Regard "L'exercise de l'état" de Pierre Schoeller foi o escolhido, e na semana da crítica "Take shelter", de Jeff Nichols saiu vencedor. Vale lembrar que está premiação é concedida pela crítica, e não influencia a decisão do júri principal.

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Já o júri ecumênico, mais conservador e que premia filmes de “causa humanista” escolheu “This Must Be The Place”, de Paolo Sorrentino, como o melhor da mostra competitiva. O júri ainda concedeu uma menção honrosa para o já citado "Le Havre" O prêmio da mostra Un Certain Regard foi para o Francês “Et Maintenant on va où?”

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O júri jovem (Jury-Jeunes) escolheu “La Piel que Habito” do diretor Pedro Almodóvar como o melhor da competição, já na mostra Un Certain Regard, "Martha Marcy May Marlene" de Sean Durkin foi premiado.

A Palm Dog, sem dúvidas o prêmio mais curioso e divertido do festival foi para Uggy, cão da raça terrier que “íntegra” o elenco de “The Artist” de Michel Hazanavicius. O prêmio é concedido para o melhor cão em cena!

A Queer Palm, prêmio destinado ao melhor filme de temática gay que íntegra toda a seleção oficial (Competição, Un Certain Regard, quinzena dos realizados e etc...) , foi para “Skoonheid”, filme sul-africano de Oliver Hermanus.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Pedro Almodóvar na “Pele em que não Habita”

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Pedro Almodóvar é um dos grandes cineastas da atualidade, mesmo sempre fazendo filmes em espanhol e se mantido longe das produções em inglês até hoje, seus filmes sempre chegam a um público grande e ficam em destaque na mídia. Tal sucesso não é por acaso, Almodóvar é diretor de obras-primas como “Mulheres a Beira de um Ataque de nervos”, “Tudo sobre minha Mãe” “Fale com Ela” e “Volver” além de outros grandes filmes, a base de sua obra principal sempre foi o drama, às vezes com muito humor negro e pequenas doses de surrealismo.
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Porém o novo filme de Almodóvar, em competição “La Piel que Habito” é algo novo na carreira do diretor, não é exatamente seu habitat (com perdão do trocadilho), o clima de thriller já esteve em filmes como “Matador” ou “Má Educação”, porém dessa vez acompanhados de suspense e terror, novidade em sua carreira. Em entrevista Almodóvar declarou ter se inspirado em Fritz Lang, e até pensou em fazer um filme mudo e em preto e branco, mas decidiu fazer algo com sua marca, mas com um gênero diferente. O filme marca o reencontro do diretor com Antonio Banderas, depois de 21 anos. Marisa Paredes, uma das antigas musas do diretor, que não trabalhava com ele desde 1999 em “Tudo sobre minha mãe” também retorna neste filme, como a governanta do personagem de Banderas. A novidade no elenco é Elena Anaya, já apontada como a possível nova musa do diretor, sua interpretação no papel da garota que é mantida refém por Banderas foi elogiada hoje, quando o filme foi apresentado no palácio dos festivais.
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Aliás, o filme foi muito aplaudido e elogiado, entre os principais comentários a favor do filme a ousadia e originalidade foram louvadas, fugindo da mesmice que o festival pareceu apresentar depois de sua metade, por causa disto, a quem diga que o filme pode ser considerado um dos favoritos a Palma de Ouro, assim como “A Árvore da Vida” e “The Artist”
O Brasil aparece no filme, citado duas vezes, em uma delas sobre a origem da família do filme, que veio do Brasil, onde até uma fantasia de carnaval entra em cena, a outra quando a música “Pelo Amor de Amar” é usada como parte da trilha.
Essa é a quarta participação de Almodóvar em Cannes, que já ganhou prêmios de direção e roteiro, mas nunca levou a Palma de Ouro, não restam dúvidas que seu nome é uma das fortes apostas desse festival, principalmente se o júri decidir surpreender fugindo da comentada palma para “A Árvore da Vida”. E apesar de não ter visto o filme, sei que irá ser merecido.
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PS: qualquer elogio demasiado ao diretor não é mera coincidência, sou suspeito ao falar de Almodóvar.

Cannes: A Natureza segundo Naomi Kawase

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Em competição com “Hanezu” a cineasta japonesa, Naomi Kawase, a última das 4 mulheres que concorrem à palma de ouro, utiliza a força da natureza e a nossa ligação com ela como linguagem de expressão em seu novo filme(algo que não é novidade em sua carreira), este formato foi um dos temas mais presentes na seleção deste ano: na competição “A Árvore da Vida” e “Melancolia” simpatizam bastante com está proposta, longos planos mostrando a natureza em ação, a força dos ventos e dos mares, o funcionamento vital do nosso planeta e como ele influencia as nossas vidas. Seja pelo destino apocalíptico mostrado no filme de Von Trier, ao qual o nosso planeta “fraco e indefeso” nada pode fazer, pois se trata de uma força maior, ou então a grandeza da natureza como o sentido real da vida apresentado por Malick. Ambos tem visões diferentes do mundo, porém algo é comum ao dois: o fato que tudo isso é superior e desconhecido por nós.

Kawase, vencedora do grande prêmio do júri em 2007 por “A Floresta dos Lamentos” não se apóia em algo grandioso para mostrar essa identificação com a natureza, nada de apocalipses eminentes nem buscas desesperadas pelo sentido da vida. A história corre em torno de um triângulo amoroso e uma gravidez, numa região mística do Japão, um local em que as relações humanas são sempre marcadas pelo ciclo da vida e da morte, onde a diretora usa uma narração em off para citar poemas antigos, enquanto filma as paisagens dessa região. Como de costume dos Japoneses, existe sempre uma ligação entre o mundo real e o espiritual, este último muito presente neste filme. Kawase também não deixa de lado as milenares tradições do Japão, sempre confrontadas com o presente.

Segundo a crítica, falta em “Hanezu” um polimento maior em suas interpretações, algo que às vezes prejudica a estabilidade do filme.

Não aposto que “Hanezu” é um dos favoritos a Palma de Ouro, até mesmo porque o vencedor anterior do prêmio possui uma certa semelhança com o filme do Naomi Kawase, em um ano que o festival busca renovação, isto pode pesar.

Porém, não descarto a possibilidade que o tema “relação homem/natureza” pela força que teve nesta edição, na competição e em outras mostras, possa dar um fôlego para o filme, ainda mais sendo este filme Japonês, lembrando os fatos recentes que devastaram o país. Se isso acontecer, o filme pode levar prêmios como direção, o grande prêmio do júri, o prêmio do júri, ou até mesmo quem sabe a Palma de Ouro? Uma surpresa, mas que pode acontecer.

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A Melancolia Polêmica de Lars Von Trier

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Ontem Cannes estava estado de alerta, afinal de contas, Lars Von Trier, um dos cineastas mais habituais e polêmicos do festival estava novamente na croisette para apresentar o seu novo filme “Melancholia”, um drama de ficção cientifica protagonizado por Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg.

Em 2009, Von Trier foi vaiado em Cannes, ao apresentar “Anticristo” (filme que rendeu o prêmio de melhor atriz para Charlotte Gainsbourg) chegou a “ganhar” um “anti-prêmio” do júri ecumênico, atitude que levou a direção do festival a se desculpar declarando que a censura ia contra todos os princípios do festival. Este ano a situação se inverteu, Von Trier passou dos limites quando perdeu o controle de uma piada durante a coletiva de imprensa do filme. Perguntado sobre suas origens germânicas, Von Trier disse que se achava meio judeu, mas soube que isso não era verdade quando conheceu Susanne Bier, diretora do vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro “Em um mundo melhor”. Percebendo o erro, Trier se atrapalhou mais ainda e disse “bem, só quero dizer que entendo Hitler” daí, totalmente perdido, disparou uma pior que a outra, até desistir de tentar contornar a situação. Claro que tudo não passou de um infeliz momento de total equívoco de Von Trier, que horas depois pediu desculpas a pedido da direção do fesitval. Uma piada de extremo mau gosto, sem dúvidas, mas ainda assim uma piada sem fundamento. A imprensa divulgou amplamente o erro do dinamarquês, nem sempre se preocupando em explicar bem o fato. A enorme repercussão levou a direção do festival a declarar hoje que Lars Von Trier é persona non grata do festival, ou seja, mesmo que ganhe a palma de ouro, ou outro prêmio, não poderá comparecer ao palácio do festival para receber a honraria. O diretor, em tom de despedida, já declarou que vai sentir falta do festival, pediu novamente desculpas, e como bom polêmico que é declarou também que se sentia “meio orgulhoso” de ser a primeira pessoa a receber a punição na história do festival. A direção, afirmou por sua vez, que a punição vale somente por esta edição (resta saber se ele voltará a ser selecionado novamente) e que a decisão é da mesa diretora, o que não impede o júri de dar algum prêmio ao filme.

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Mas, falando sobre o que realmente importa: “Melancholia”, foi aplaudido após sua exibição, ao contrario do filme anterior do cineasta. A crítica elogiou muito a trilha sonora, a fotografia e os efeitos visuais do filme, quase que por unanimidade, mas como se trata de um filme de Von Trier nem todos foram favoráveis ao filme como um todo, alguns apontaram problemas no roteiro, classificando-o como previsível a ponto de não causar o mesmo impacto dos filmes anteriores do diretor, houve opiniões de que este se trata do filme mais fraco de sua carreira, assim como os que o defenderam como um novo grande filme por ele realizado. De certo modo, Lars Von Trier continua o mesmo, melancólico e com um senso de humor peculiar, sendo declarado como gênio por uns, e como uma farsa por outros. “Melancholia” tinha sim chances de vencer um prêmio como o de direção, ou até mesmo a Palma de Ouro, até porque ele “dialoga” com a vibe do festival desse ano, a mesma de filme como “A Árvore da vida” e “Hanezu” Porém, depois da repercussão negativa deixada pelo cineasta, acredito que isso não deva acontecer.

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Nota pessoal: Vou sentir falta do Lars Von Trier em Cannes!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cannes 2011: A Metade do Festival

5° Dia:

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Depois de 4 dias intensos na Croisette, com filmes que em sua maioria traziam temas pesados, “The Artist” do diretor Michel Hazanavicius foi um alivio para presentes em Cannes. O filme é mudo e em preto e branco, totalmente nostálgico “The Artist” se passa em 1927 focado em George Valentin, um astro do cinema mudo que se vê destinado ao esquecimento com a chegada dos filmes sonoros, Em contrapartida, Peppy Miller, uma jovem figurante será impulsionada ao estrelato.

O filme foi bastante aplaudido, a crítica destacou o ótimo uso do humor no filme, que é capaz de prender e encantar o espectador até o final. As interpretações foram elogiadas assim como os aspectos técnicos do filme. Diante do impacto totalmente positivo que o filme causou ele já é um concorrente forte a Palma de Ouro, ou até mesmo outros prêmios, a trama nostálgica sobre cinema deve agradar ao júri, assim como fez com a crítica.

Também em competição, foi exibido “O Garoto da Bicicleta” (Le Gamin Au Velo) o novo filme dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, os diretores que já estão na sua quinta participação no festival, nunca saíram sem um prêmio, entre eles, duas Palmas de Ouro. E se depender da crítica não vai ser diferente para “O Garoto da Bicicleta” o filme, juntamente a “The Artist” foi o mais elogiado até então. Esse também está sendo considerado o trabalho mais leve dos diretores, com um clima mais confortável para os que não estão habituados com o trabalho dos diretores, o roteiro e sua coerência também foram alvo das críticas positivas. Na trama, Cyril, um garoto de 12 anos está disposto a encontrar o pai que o abandonou em um orfanato, conhece por acaso Samantha, a dona de um salão de beleza que o acolhe em sua casa nos fins de semana, e logo desenvolve um amor pelo garoto, mas, Cyril não percebe este amor, o amor que ela tanto precisa para acalmar sua cólera.

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Já na mostra Un Certain Regard foi exibido “Martha Marcy May Marlene” um filme que deixou ótima impressão ao ser exibido em Sundance, o drama forte tem como seu principal destaque a interpretação de Elizabeth Olsen, que está sendo bastante elogiada pela crítica, e já é apontada como uma das revelações do ano. No Filme, Depois de ter escapado a uma seita e ao seu carismático líder (John Hawkes), Martha (Elizabeth Olsen) tenta reconstruir-se e reviver uma vida normal. Procura ajuda junto da sua irmã mais velha, Lucy (Sarah Paulson), e do seu cunhado (Hugh Dancy) com quem tinha cortado relações, mas é incapaz de lhes confessar a verdade sobre a sua longa desaparição. Martha está persuadida que a sua antiga seita persegue-a obstinadamente. As recordações que a atormentam transformam-se em paranóia pavorosa e a fronteira entre a realidade e a ilusão embrulha-se pouco a pouco...

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6° Dia

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Talvez o dia mais esperado do festival devido à exibição do novo projeto de Terrence Malick, “A Árvore da Vida”, certamente foi o mais aguardado do festival em virtude de toda a “mitologia” criada em torno do filme, Após sua exibição o filme foi bem aplaudido, mas ainda assim vaiado por alguns. A crítica também se dividiu, a maioria foi positiva, destacando que o filme é uma experiência única, as criticas “negativas” questionavam a coesão do filme e que ele valeria mais como uma experiência visual.

A “Variety” escreveu que Malick é um dos poucos cineastas americanos que hoje “estão tão receptivos ao esplendor da natureza” ainda citou que o filme é o mais simples do cineasta, ao mesmo tempo em que é um dos mais desafiantes de sua carreira. E que o filme vai agradar especialmente aos fãs fervorosos do diretor. Algo é certo, o filme de Malick é um dos grandes filmes do ano, há quem diga que já é forte concorrente ao Oscar de melhor filme, outros comparam Malick a Kubrick, que também demorou a ter sua genialidade reconhecida. Sendo gênio ou não, Malick, fez algo que o festival busca ter de volta neste ano, filmes que causem impacto, opiniões, e que principalmente chamem a atenção e elevem o status do festival, sendo assim “A Árvore da Vida” é um dos grande favoritos a Palma de Ouro, e Malick ao prêmio de direção.

O outro filme em competição “L’apollonide (Souvenirs de la maison close)” de  Bertrand Bonello, por sua vez não chamou tanta atenção, nem conquistou a crítica, considerado o mais fraco até o momento na competição. O filme se passa no início do século XX, em um bordel parisiense, uma prostituta com o rosto marcado por uma cicatriz, ostenta um sorriso trágico, ao seu redor as outras mulheres, com suas rivalidades, angustias e dores... Do mundo exterior, não se sabe nada porque a casa está fechada, mas dentro das suas paredes tudo é possível. L’apollonide, não chegou a ser vaiado, mas também não foi aplaudido, entre os problemas que foram destacados pela imprensa, um dos mais citados foram as escolhas equivocadas do diretor para o desenrolar do filme, além de um elenco mal aproveitado.

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Na mostra Um Certo Olhar, “Hors Satan”, de Bruno Dumont, também não se saiu bem, o ritmo do filme foi criticado por ser excessivamente lento. Alguns críticos questionam a seriedade de Dumont pela estranheza em que os personagens são retratados. Muitas pessoas abandonaram a sessão antes do fim filme, e os poucos que restaram aplaudiram timidamente o filme.

7° Dia

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O grande destaque do sétimo dia na Croisette, foi a homenagem em reconhecimento da carreira de Jean-Paul Belmondo, o ator ícone da nouvelle vague recebeu uma Palma das mãos de Gilles Jacob. Belmondo declarou “Estou emocionado com esta Palma de Ouro, que me vai direto ao coração. Quero agradecer a todos os que estão aqui, os que conheço e os que não conheço. Um grande obrigado do fundo do meu coração!”

Em competição, “Le Havre” de Aki Kaurismäki encantou Cannes e conquistou a crítica, e já está sendo apontado como um dos preferidos juntamente com “The Artist” e “A Árvore da Vida”. O filme que é sobre um escritor aposentado que ajuda um garoto que imigrou clandestinamente da África para a Europa, com o objetivo de chegar até Londres encontrar com a sua mãe, ele desembarca na cidade portuária de Havre onde vive o escritor aposentado em seu auto-exílio. Um dos pontos altos do filme segundo a crítica é que mesmo tratando de um assunto sério como a imigração ilegal, “Le Havre” faz isso de maneira leve, sem tentar chocar e sem ser ambicioso em sua intenção. O mesmo que ocorre em “The Artist” Segundo o Awards Daily “esté é um daqueles filmes que nos fazem sorrir continuamente, renovando a nossa fé na bondade humana, nem que seja somente por umas horas.”

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Também em competição “Pater” de Alain Cavalier, o filme é um experimento de metalinguagem, onde o diretor brinca: cinema ou teatro? Verdade ou ficção? Ele e o ator Vincent Lindon ficam neste “jogo” enquanto debatem sobre política francesa com um certo tom de humor, o filme não foi uma unanimidade, alguns gostaram, elogiaram seu formato pouco convencional, outros o acharam meio bobo, mas a recepção em geral foi positiva.

“No final deste filme, Emília morre e Júlio encontra-se sozinho. Na realidade, Júlio já estava sozinho muitos anos antes da morte de Emília. Mas o que importa é que no fim, Emília morre e Júlio não. Júlio vive e Emília não. O resto é apenas ficção.”

Está é a sinopse de “Bonsai” (que me chamou a atenção particularmente) que debate a vida e a literatura. O filme foi exibido na mostra secundaria Un Certain Regard, e recebeu criticas positivas.

E fora de competição o filme “Um Novo Despertar” (The Beaver) de Jodie Foster(seu terceiro como diretora) foi bastante aplaudido e elogiado. Foster conta a história de Walter Black(Mel Gibson) um executivo em crise que se recusa a se comunicar com a família e amigos, e passa a falar somente através de um fantoche de um castor, que foi encontrado ocasionalmente, esse fantoche é seu meio de enfrentar os problemas que o atormentam. Foster, faz o papel de sua esposa. Gibson, teve sua interpretação elogiada, assim como Jodie Foster como diretora de “planos fortes” segundo a crítica.

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Cannes 2011: Os Primeiros Dias

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Depois de uma edição problemática, e quase que totalmente apagada e acinzentada pelas cinzas do vulcão Eyjafjallajoekull e os temporais inesperados que castigavam a frança, a edição 2011 do festival de Cannes veio com “renovação” como palavra de ordem. A mudança notou-se logo na divulgação da seleção oficial, que está sendo considerada há melhor em muitos anos (considero a de 2009 muito boa também) Nos nomes divulgados intercalam-se grandes e famosos como Pedro Almodóvar, Gus Van Sant, Os Irmãos Dardenne, Lars Von Trier, Nanni Moretti, Terrence Malick e Woody Allen (que acabou fora de competição, mas foi o responsável pela abertura do festival) Com os promissores nomes que chamaram atenção em edições anteriores como: Naomi Kawase, Paolo Sorrentino, Lynne Ramsay, Aki Kaurismäki, Nuri Bilge Ceylan e Bretrand Bonello. Nomes novos no festival também participam: Michel Hazanavicius, Joseph Cedar, Maïwenn Le Besco, Radu Mihaileanu, Nicolas Winding Refn e até o veterano Alain Cavalier, que ao que me parece está estreando no festival, ou ao menos a muito não era lembrando. Cannes está tão democrática este ano, que incluiu 4 mulheres na competição, número inédito até então, além disso, dois estreantes na direção de filmes: Julia Leigh que apresenta “Sleeping Beauty” e Markus Schleinzer com “Michael”

Ainda é cedo para dar um veredicto final e analisar com certeza se o festival atingiu o seu objetivo... Pessoalmente eu arriscaria que sim, nestes primeiros 4 dias a leveza de espírito que ronda o festival é notável, talvez ocasionada pelo clima bem mais amigável do que o do ano anterior. Porém nem todos os filmes em competição que foram apresentados nesses primeiros dias partilham dessa leveza, trazendo em sua maioria temas fortes. Confiram abaixa o que aconteceu em Cannes até agora:

1º dia

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A cerimônia de abertura do festival começou com a merecida homenagem a Bernardo Bertolucci, que recebeu a primeira “Palma de Honra” a nova premiação do festival, que a partir desta edição será entregue anualmente em reconhecimento a grandes carreiras como a de Bertolucci que ainda não receberam a honraria da palma. Bertolucci, em uma cadeira de rodas devido a um problema na coluna, revelou que decidiu voltar ao cinema depois de ter visto e adorado o filme “Avatar” de James Cameron, segundo o diretor italiano ele empregara a mesma técnica 3D em seu próximo filme, o primeiro desde “Os sonhadores” de 2003. Bertolucci também declarou que estava feliz em receber sua primeira palma, e que valeu a pena esperar. Revelou também que quando fez seu filme “1900” não aceitou ao convite do festival por temer que o filme fosse depreciado em sua participação, já que segundo palavras do próprio Bertolucci ele se trata de “um monstro de 5 horas de duração”. Anos mais tarde ele encontrou com o diretor Costa-Gravas, que foi o presidente do júri no ano em que recusou o convite, e este lhe perguntou o porquê dele não ter aceitado participar, pois ele e o restante do júri dariam a palma de ouro a ele. Bertolucci foi amplamente aplaudido pela platéia presente no palácio dos festivais. Outro a receber aplausos e saudações efusivas foi o presidente do júri deste ano, o ator Robert De Niro. Em seu discurso agradeceu o convite para participar do festival deste ano e disse que espera fazer um bom trabalho a frente do júri. Antes dos discursos de Bertolucci e De Niro, a abertura oficial ficou por conta da atriz francesa Mélanie Laurent, que declarou que “Os onze dias do festival valem por 100”

Logo após todos os discursos de abertura, Woody Allen abriu para valer o festival exibindo seu novo filme “Meia noite em Paris” que foi aplaudido pela platéia e muito bem recebido pela imprensa presente, apesar da boa recepção o filme de Allen não integra a competição. Na coletiva após a exibição, Allen declarou que não se considera um artista de verdade como Bergman e Fellini, e que sua careira se resume em apenas um bom diretor, que tenta fazer o seu melhor. Quanta modéstia Allen! Sabemos que não é bem assim... O diretor também revelou que a primeira dama francesa, Carla Bruni, aceitou participar do filme, porque um dia gostaria de contar essa história para seus netos, e declarou que ela fez seu papel com perfeição. Allen ainda disse que a vontade de querer viver em outras épocas é uma armadilha, este é um dos elementos do roteiro de “Meia Noite em Paris”

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A abertura  da competição ficou por conta de “Sleeping Beauty” que chocou mais do que agradou, algumas criticas diziam que apesar da grande e ousada interpretação de Emily Browning, a estréia da diretora Julia Leigh é um filme de aspecto lento e que pode aborrecer em alguns momentos. Não deve causar grande comoção no júri também, porém Browning pode ser premiada por sua atuação

2° dia

O segundo dia do festival começou com a exibição de “We Need to Talk About Kevin” bastante elogiado pela critica, o filme de Lynne Ramsay sobre a história de Eva (Tilda Swinton) uma mãe que abriu mão do seu futuro para criar o filho Kevin. A relação entre os dois sempre foi bastante complicada, porém Eva não imaginava que o filho fosse capaz de cometer aos 16 anos um crime em massa em sua escola. Eva encontra-se então entre a culpa e o sentimento materno. O Movieline em sua critica escreveu: “A relação mãe-filho é bastante convincente. Swinton é fenomenal. A sua nudez emocional, o seu desejo de fazer o que é correcto pelo seu filho, é sempre credível.” Swinton, por enquanto lidera as aposta para o prêmio de melhor atuação feminina, e Lynne Ramsay está sendo bastante elogiada pelo seu trabalho a frente deste filme, será que temos uma primeira favorita ao prêmio de direção? Lembrando que este ano 4 mulheres estão em competição, um recorde.

SB

O segundo filme na competição pela palma, exibido foi “Polisse”, também dirigido por uma mulher, Maïwenn Le Besco, que também atua e assina o roteiro. Foi elogiado e recebido como uma bela surpresa. o filme de ficção adiciona elementos de documentário em sua montagem, esta característica lembrou o vencedor da palma de 2008 “Entre os Muros da Escola”, francês, assim como “Polisse”. O Austin Movie Blog declarou em sua critica, que não vai ser surpresa se “Polisse” seguir os passos de seu conterrâneo e vencer o festival, trazendo assim a Palma de Ouro de volta para a França.

Também fizeram parte do 2° dia a exibição do novo filme de Gus Van Sant "Inquietos" na mostra Um Certo olhar, que será comentada em breve aqui no blog. Fora de competição o filme de animação “Kung Fu Panda 2” trouxe estrelas como Angelina Jolie, Dustin Hoffman e Jack Black ao tapete vermelho.

3° Dia

O terceiro dia de festival contou com a exibição de “Habemus Papam”, novo filme do já vencedor da palma de ouro Nanni Moretti, sobre um papa em crise existencial logo após ser eleito pelo conclave. O filme não impressionou a crítica, sendo considerado como apenas simpático e bem realizado. Alguns críticos destacaram que Moretti não aproveitou ao Maximo o potencial de seu próprio filme, e que o destaque principal da bem humorada história fica a cargo da atuação maravilhosa de Michel Piccoli. Dando uma aula de atuação aos 85 anos, o astro de filmes como “O Desprezo” é o nome mais forte até o momento nas apostas a cerca do prêmio de atuação masculina.

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Na mostra “Um certo Olhar” foi exibido “Arirang” escrito e dirigido pelo coreano Kim Ki-duk, diretor de “Time” e “Casa Vazia”, o filme foi classificado como difícil de se assistir, e alguns analisam que dificilmente ele encontrara uma distribuição e deve limitar-se a exibições em festivais. Fora de competição “Wu xia” do diretor Peter Chan foi exibido, considerado em geral como um filme de entretenimento que deve agradar a um público específico.

4° Dia

Ao quarto dia, o ritmo de Cannes ficou ainda mais intenso com a exibição fora de competição de “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas” estrelas como Johnny Depp e Penelope Cruz que fazem parte do elenco, além de convidados, fizeram a festa de fotógrafos e fãs que estavam presentes no tapete vermelho.

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Já na competição, o filme austríaco “Michael” do diretor estreante Markus Schleinzer causou um certo choque, dividindo a opinião da platéia que ficou entre vaias e aplausos. Entre os motivos apontados para a recepção fria se dão; a excessiva lentidão depois da primeira metade do filme e o tema indigesto, que no caso é a pedofilia. O cinema austríaco sempre foi rígido, vale lembrar-se dos filmes de Michael Haneke, este qual inclusive já teve Markus Schleinzer em vários de seus filmes como diretor de elenco.

O outro filme exibido, o israelense “Hearat Shula Yim” também não causou grande comoção nos presentes, gerando também opiniões diversas devido às escolhas do diretor Joseph Cedar.

Um bom começo para um festival que tenta se renovar, porém, aposto que os próximos dias serão ainda melhores, e que os grandes filmes estão por vir. Que assim seja!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Cannes 2011 - Os Filmes: Parte 2

A segunda parte do resumo comentando sobre os filmes selecionados para a mostra competitiva do festival de Cannes 2011, além dos comentários também adicionei sinopses, links para trailers ou cenas de divulgação e informações sobre os diretores, confiram, o festival deste ano está bem interessante!

"We Need to Talk About Kevin"
Filme inglês que adapta o livro Best-seller de 2003 escrito por Lionel Shriver, a direção do filme ficou por conta de Lynne Ramsay, diretora escocesa que em 1996 ganhou o prêmio do júri em Cannes pelo seu curta de estréia: “Pequenas Mortes”.
O filme retrata a relação de desprezo e ódio que Eva (Tilda Swinton) nutre pelo seu filho Kevin (Ezra Miller) que ao nascer interrompe sua carreira, aos 16 anos Kevin comete um crime de proporções inimagináveis. Eva então se encontra em meio à culpa e o sentimento materno que tem pelo seu filho, sentimento esse que ela não sabe dizer se é amor. O Filme ainda conta com John C. Reilly no elenco, como o pai de Kevin. Swinton é cotada desde já para receber o prêmio de melhor atriz. Teaser
 
“Sleeping Beauty”
Outro filme que trás em si um dos objetivos de renovação na edição do festival deste ano, é um dos 4 na mostra competitiva que tem uma mulher em sua direção, fato inédito até então, é também um filme de estréia, algo que não costuma acontecer muito na mostra competitiva e sim nas mostras secundarias. A estreante é Julia Leigh, uma escritora australiana, no elenco do filme destaque-se Emily Browning como Lucy, uma garota que para preencher um vazio existencial e superar problemas financeiros, aceita o trabalho de garota de programa. Uma historia muitas vezes já contada se não fosse pelo detalhe que Lucy toma um forte chá para dormir por horas, enquanto seus clientes podem realizar todas as fantasias sexuais que desejarem com seu corpo, sendo a penetração a única restrição. Segundo Julia Leigh o titulo “Bela Adormecida” não é apenas pela semelhança com a personagem infantil, mas também porque o filme é de seu modo, um novo conto de fadas sombrio. Trailer

“Drive”
O dinamarquês Nicolas Winding Refn se destacou nos últimos anos por fazer um cinema underground com um aspecto visual bastante próprio e rico, não ia demorar muito para seu nome chegar a Hollywood. “Valhalla Rising” Seu filme anterior esteve em Veneza e foi o passaporte de entrada final para uma produção norte americana. E “Drive”, sua primeira “grande” produção é formada por um elenco de nomes proporcionais, o excelente Ryan Gosling (Namorados para Sempre) e Carey Mulligan (Educação) protagonizam juntamente com Bryan Cranston (Breaking Bad) o filme que trás a historia de “Drive” (Gosling) um dublê que leva uma vida calma e anônima durante o dia, e a noite trabalha como piloto de fuga para a máfia, tudo vai bem até um trabalho por ele realizado falhar inesperadamente, o que o leva a ser perseguido pelo chefão da máfia, para sobreviver terá que fazer o que sabe de melhor: conduzir. Ainda participam do elenco: Christina Hendricks (Mad Men) e Ron Perlman (Hellboy) Cena de divulgação

“This Must Be the Place”
Paolo Sorrentino chamou atenção ao ganhar o prêmio do júri em 2008 pelo filme Il Divo” Retorna este ano a Cannes para apresentar a historia de um roqueiro aposentando, Cheyenne (interpretado por um impagável Sean Pean em estilo glam rock). Que retorna a Nova York após a morte do seu pai, onde descobre a humilhação que o falecido sofreu nas mãos de um oficial da SS em Auschwitz, parte então em uma jornada pela America, em busca do homem que humilhou seu pai para se vingar e redescobrir sua própria identidade. Pean, que também participa da competição com “A Árvore da Vida” é desde já um dos favoritos a melhor ator no festival. “This Must Be the Place” ainda trás em seu elenco os atores: Frances McDormand, Judd Hirsch e Harry Dean Stanton Teaser

"Hanezu no tsuki”
Não há muita coisa solida sobre o filme de Naomi Kawase na internet, a sinopse mais completa que encontrei é esta que vou reproduzir totalmente do site oficial do festival:
“A região de Asuka, em Nara, é o berço do Japão. Nela, há muito tempo atrás viviam os que se satisfaziam com o prazer de esperar. O povo moderno, tendo aparentemente perdido esse sentido da espera, parece incapaz de mostrar reconhecimento em relação ao presente, agarrando-se à ilusão que tudo avança segundo o plano preciso de cada ser. Há muitos anos, os japoneses criam que o Monte Unebi, o Monte Miminashi e o Monte Kagu, três montanhas japonesas, eram habitadas por deuses. Essas montanhas ainda existem. Nesses tempos, um homem de negócios tinha comparado as montanhas à batalha que se travava no seu próprio coração. As montanhas eram a expressão do carma humano. Desde então as coisas evoluíram. Takumi e Kayoko, herdando as esperanças desiludidas dos seus avós, desperdiçam as suas vidas. A sua história é universal, parecida com a das inumeráveis almas que se acumulam nesta terra.”
Kawase tem uma trajetória de sucesso em Cannes, seu primeiro filme “Moe no Suzaku” a tornou a cineasta mais jovem a ganhar o Caméra d'Or (prêmio dado a diretos em seu primeiro filme) Em 2007 ela retornou ao festival e saiu premiada novamente, desta vez com o grande prêmio do júri, pelo elogiado “A Floresta dos Lamentos”. Portanto é bom guardar o nome Naomi Kawase como um dos favoritos do festival, vale lembrar que este ano nunca houve tantas mulheres (4 para ser exato) participando da mostra competitiva.
 
"Le Havre"
Aki Kaurismäki saiu vencedor do prêmio do júri em 2002 por “Um homem sem passado” A segunda parte de sua trilogia chamada “Finlândia” Por este filme Kaurismäki também foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, e esse ano apresenta “Le Havre” o filme é sobre Marcel Marx, antigo escritor e boêmio que encontra atualmente exilado por vontade própria na cidade portuária que da nome ao filme. Ele leva uma vida normal ao lado de sua mulher Arletty. Sua vida muda quando uma criança oriunda da África cruza inesperadamente o seu caminho, ao mesmo tempo que sua mulher adoece, Marcel passa a se desdobrar para resolver a nova situação que toma conta de sua vida. Teaser
Bir zamanlar Anadolu'da”
O diretor turco Nuri Bilge Ceylan venceu o prêmio de direção em 2008 pelo filme “3 Macacos” e retorna com Bir Zamanlar Anadolu'da (Once Upon a Time in Anatolia) no trailer divulgado do filme, não é dita uma única palavra, parecendo ser um trabalho mais contemplativo do diretor, a sinopse divulga no site oficial do festival diz: “A vida numa aldeiazinha aparenta-se a uma viagem em plena estepe: a impressão que algo de novo e de diferente vai surgir pro detrás de cada colina, mas sempre nas mesmas estradas monótonas, estreitas, que desaparecem ou persistem, infalivelmente similares...” Ao que parece, esse é mais um filme no festival desse ano em que se estabelece um clima misterioso e não muito claro sobre sua história. Trailer
 
"La Source Des Femmes"
Este aqui me chamou a atenção especialmente por ter uma sinopse bem simples: em uma pequena aldeia entre a região norte da África e o oriente médio uma tradição é seguida há anos, as mulheres são responsáveis por buscar água na fonte, no topo de uma montanha, todos os dias, debaixo de um sol escaldante. Leila uma jovem recém-casada cansa-se do trabalho extremamente duro, e propõe para as outras mulheres uma “greve do amor”, nada de carinhos e sexo, até que os homens assumam a tarefa de apanhar a água. O filme é dirigido por Radu Mihaileanu, diretor romeno que dirigiu também “O concerto” Em um ano com um júri liderado por um americano e com participação de outros dois, a história simples e leve do filme de Radu pode agradar. No meio de tantos temas pesados e até meio complicados "La Source Des Femmes" pode ser um belo descanso, se bem que o cinema não precisa ser simples para ser eficiente, por fim, por trás de uma história simples pode existe uma grande mensagem, e principalmente, um grande filme. Trailer
 
“Polisse”
Falando em mulheres, “polisse” é o último filme entre quatro, a ser citado aqui no blog que é dirigido por uma mulher e está na mostra competitiva. O filme acompanha o cotidiano dos policiais da BPM (Brigada de proteção aos menores) a convivência entre eles, e a dificuldade de lidar com suas vidas pessoais e os casos em que estão trabalhando, e que em sua maioria, também envolvem a família, soma-se a tudo isso a tensão do trabalho em grupo. Maïwenn Le Besco dirige, atua e assina o roteiro. É seu quarto trabalho na direção. O filme é um dos representantes da França, casa do festival. Teaser

“Hearat Shula Yim (Footnote)”
“Os Shkolnik são uma família de investigadores de pai para filho. Enquanto Eliezer Shkolnik, professor purista e misantropo, nunca conseguiu ter sorte na vida, seu filho Uriel é reconhecido pelos seus colegas. Até ao dia em que o pai recebe uma chamada: a academia decidiu recompensá-lo com o prêmio mais prestigioso da disciplina. O seu desejo de reconhecimento revela-se publicamente.” Está é a sinopse divulgada do filme israelense de Joseph Cedar, tramas familiares é um dos temas preferidos do festival, algo que não muda esse ano, estando presente em vários filmes. Joseph Cedar já representou Israel no Oscar em 2004 com o filme “Campo de Batalha” e chegou a figurar entre os concorrentes a vaga de filme estrangeiro em 2008 com “Beaufort” Por este filme também ganhou o urso de prata em Berlim, vamos ver como ele ira se sair em sua estréia em Cannes. Teaser
 
“The Artist”
Outro representante da França, dirigido por Michel Hazanavicius “The Artist” se refere a George Valentin, estrela do cinema mudo que é destinado ao esquecimento com a chegada dos filmes sonoros, Já Peppy Miller, jovem figurante tem sua carreira elevada ao estrelato. Um filme sobre cinema, com um tema que faz lembrar a personagem vivida por Gloria Swanson em “Crepúsculo dos Deuses” a inesquecível Norma Desmond, um atriz em decadência depois da era do cinema mudo. Será que um filme sobre cinema pode ter um apelo especial num júri com vários profissionais do meio? Fazem parte do elenco: john Goodman, Missi Pyle e Penelope Ann Miller como protagonistas, além de James Cromwell, conhecido pela serie de TV “A Sete Palmos” Dica: esse filme tem uns dos mais belos trailers do festival vale a pena ver. Trailer
Link  
“Pater”
Já que o assunto do filme anterior é cinema, é obvio falar sobre o filme de Alain Cavalier, que também se assemelha a “The Artist” em sua nacionalidade francesa. A sinopse é bastante interessante: “Vincent Lindon e Alain Cavalier são amigos como um filho e um pai. Bebem Porto nos bares e perguntam-se que filme poderiam realizar juntos. Filmam-se disfarçados de homens poderosos. Só para ver até onde podem pôr os podem ir. História de rir. História de dormir de pé, confundindo as suas histórias pessoais com uma simples história. E sempre, a questão pertinente e sem resposta do cinema: é verdade ou não?” Estaria Cannes, passando por um momento saudosista? Alain Cavalier é um veterano da “nouvelle vague” com uma carreira de mais de 50 anos, apesar de ser um diretor pouco conhecido fora da frança, já ganhou um César de direção e melhor filme por “Thérèse”

"L’Apollonide – Souvenirs de La Maison Close”
Bretrand Bonello é o ultimo representante francês neste post, em um ano em que a frança parece vir forte novamente ao festival, talvez uma tentativa de trazer a palma de volta para casa, algo que não acontece desde 2008 com “Entre Os Muros da Escola” resta saber se a quantidade vai significar qualidade. Bonello já concorreu à palma em 2003 por seu filme “Tiresia”. Na sinopse do filme, mais uma vez algo é deixado no ar: “No início do século XX, num bordel parisiense, uma prostituta com o rosto marcado por uma cicatriz ostenta um sorriso trágico. Em torno da mulher que ri a vida das outras moças, as suas rivalidades, as suas angústias, as suas dores... Do mundo exterior, não se sabe nada porque a casa está fechada, mas dentro das suas paredes tudo é possível.” Romântico, misterioso, inovador e ao mesmo tempo saudosista, esse é o clima do festival este ano. Trailer

“Michael”
Este filme austríaco encerra meu pequeno resumo sobre os filmes selecionados para concorrer à palma de ouro este ano. O filme possui a mais curta sinopse de todo os filmes concorrentes: O filme descreve os cinco últimos meses da vida comum, forçada, de Wolfgang, de dez anos, com Michael, de 35 anos. Curto, simples, direto. Parece ser essa a proposta do diretor Markus Schleinzer, pouco foi falado, então não há muito que se comentar sobre ele, mas é mais um dos filmes em que a relação entre pessoas é o tema, porém ao que o quase silencioso trailer indica e revela, essa é uma relação de seqüestro. Markus Schleinzer deixou para mostrar mais no filme, que é sua estréia na direção geral, antes trabalhou em vários filmes como diretor de elenco, sendo um parceiro constante de Michael Haneke(vencedor da palma de ouro em 2009 por a fita branca) desempenhou essa função também no filme vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008 “Os Falsários” Aguardemos sua estréia. Trailer